Às mulheres, a liberdade de ser quem são

Manaus – Ser bem-sucedido naquilo que você escolheu fazer, poder ajudar as pessoas e conhecer novos lugares através da sua profissão são os sonhos de muitos jovens que começam a entrar no mercado de trabalho. No entanto, ainda que pareça distante, é uma oportunidade concreta, que pessoas como a amazonense Jana Nelson, de 32 anos, resolveram agarrar.

Hoje, ela leva consigo um currículo de quatro anos como diplomata nos Estados Unidos, conselheira política na Agência de Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado Americano, consultora em multinacionais e diversos outros títulos que, no início da carreira, eram apenas aspirações.

Nascida e criada em Manaus, Jana afirma que sempre quis estudar e trabalhar com Relações Internacionais, área que, na época, não tinha cursos na cidade. Por isso, desde muito cedo, ela alimentou planos de experimentar voos mais altos. “Só havia três cursos de Relações Internacionais, na minha época, em Minas Gerais, São Paulo e em Brasília, que foi o qual eu acabei escolhendo, por ser o mais antigo. Fiz um processo seletivo e acabei indo para a Universidade de Brasília (UNB), onde estudei por quatro anos”, relembra.

Foi em 2009 que, frente a uma oportunidade sem igual, ela precisou tomar decisões que mudariam a sua vida e seus planos. “Havia um programa luso-americano, no qual o governo português incentivava a colocação de gente que fala português no governo americano. Assim, eles me deram uma bolsa completa e eu fui fazer mestrado na universidade de Georgetown, em Washington”, conta Jana. “Fiz um curso de Ciência Política Aplicada na América Latina, na intenção de que eu pudesse, eventualmente, me tornar diplomata. A partir daí, por conta própria, eu entrei no governo americano”, completa.

Filha de pais americanos, aproveitando sua vantagem de ter dupla cidadania, ela conta que teve o exemplo dentro de casa de que as distâncias não deveriam impedi-la de ir atrás de seus sonhos. “É difícil sair de casa tão cedo, a mãe sempre acha ruim”, brinca. “Mas meus pais são americanos e moram em Manaus desde os anos 1980. Dentro de casa, eles sempre nos ensinaram a querer isso também. E eles adoram viajar e me visitar onde quer que eu esteja”.

Do tempo em que trabalhou nos Estados Unidos, Jana Nelson lembra dos desafios e eventos importantes dos quais teve a chance de participar, no auge dos seus 26 anos. “Eu passei quatro anos atuando no Departamento de Estado, mais especificamente com política externa para o Brasil. É muito interessante estar entre os chefes de Estado, fiz a visita do Obama, em 2010, da Dilma, em 2012, entre outras, e você consegue participar e influenciar de alguma forma as relações entre os países”, comenta.

“Quando eu pensava em fazer Relações Internacionais, lá no começo, eu tinha uma ideia de trabalhar com organizações internacionais ou mesmo como diplomata, mas não sonhava com os Estados Unidos. Muitas vezes as coisas não acontecem como nós planejamos, mas eu tive uma oportunidade de fazer a diferença e, para mim, é um privilégio”, garante Jana.

Hoje, no setor privado, onde é vice-presidente para o México, América Central e Caribe, na Speyside Corporate Relations, empresa de consultoria de Relações Internacionais, o desafio é outro. De acordo com Jana, as mudanças foram grandes, desde a comunicação até o lugar que ela chamava de casa. “Nós sempre encontramos diferenças do governo para o privado. Mas eu tive a chance de conhecer uma língua diferente. Hoje, morando no México, eu trabalho totalmente em espanhol, não tem nada de inglês ou português”, explica.

Para ela, é essa mudança de ambiente, misturada com a possibilidade de recomeçar, que tornam o trabalho compensador. “É mais uma chance de você conhecer e se fazer conhecida em outro lugar. Quando você mora muito tempo em uma cidade, acaba conhecendo todo mundo apenas por estar lá. Em um lugar novo, você precisa sair com a ideia de que ninguém quer falar com você, precisa saber quem é quem naquele lugar e se fazer presente, virar parte daquela nova realidade. É um aprendizado constante”, afirma.

Apesar de um currículo impressionante e grandes conquistas ao longo dos anos, Jana conta que existe um tipo de preconceito velado, contra o qual as mulheres ainda precisam lutar. No entanto, ela se diz otimista de que os tempos estão mudando. “É difícil ser mulher no setor privado. Já me disseram que eu tenho que ser mais dura com a minha equipe, gritar mais, o que eu me recuso a fazer. Já aconteceu de não me convidarem para eventos por ser mulher, porque naquele determinado ambiente seria ‘estranho e fora de contexto’. Essas coisas são superinjustas, mas acontecem. O que você precisa fazer é respirar fundo e direcionar essa energia ruim para provar, não com um argumento, mas a sua competência naquilo que faz”, aconselha Jana.

“Eu tive sorte de ter bons mentores que sempre me aconselharam a como lidar nessas situações e acho que isso tem melhorado. Eu acredito que esse preconceito seja menos cultural e mais geracional, é fruto de uma geração que não via as coisas como são hoje. Então, ainda existe, mesmo que nenhum homem vá criticar abertamente uma mulher apenas por ser mulher. Mas as novas gerações, no México, nos Estados Unidos, no Brasil e, acredito, no mundo todo, têm lutado cada vez mais pelos direitos iguais”, aponta.

De acordo com ela, essa mudança é visível mesmo no ambiente onde ela atua e com amigos e conhecidos, que são provas de que as mulheres estão, cada vez mais, ocupando cargos importantes e dando conta do recado. “Eu tenho um grupo de amigas, todas empresárias, que nos apoiamos mutuamente. Mesmo na empresa onde eu trabalho, hoje, temos várias mulheres líderes, nos vários países em que atuamos. É um grupo diverso, que busca exatamente essa igualdade de gênero”, avalia.

Sobre seus desafios diários como mulher e executiva, ela brinca: “Minha grande batalha é ir para a academia todos os dias. Todo o resto é uma questão de transformar algo negativo em positivo, não deixar a energia ruim te corroer e conseguir fazer o melhor que você puder”, finaliza.

Fonte: d24am

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